sábado, 30 de agosto de 2008

Patativa de Assaré


A patativa é uma ave cinzenta de canto harmonioso do sertão nordestino.

Comparando a poesia de Antônio Gonçalves da Silva com o canto do pássaro, o escritor cearense José Carvalho de Brito lhe deu apelido de Patativa de Assaré, e desde então ficou assim conhecido.

Nascido no dia 05 de março de 1909, na cidade de Assaré, Ceará, ele cantou com suas poesias e encantou o sertão nordestino e todo o Brasil.

Ainda criança ficou cego de um olho devido a uma doença. A morte de seu pai, quando ainda tinha 8 anos de idade, o levou ao trabalho na agricultura ainda cedo e apenas aos 12 anos freqüentou a escola por alguns meses, quando foi alfabetizado. Entretanto, antes disso, ele já compunha seus versos e decorava-os. Então, aos 16 anos ganhou sua primeira viola e passou a fazer repentes e se apresentar.

Sua obra foi voltada para o povo marginalizado e oprimido do sertão nordestino, mostrando sua revolta contra as injustiças contra esse povo.

Livros:
- Inspiração Nordestina - 1956; Inspiração Nordestina: Cantos do Patativa -1967; Cante Lá que Eu Canto Cá - 1978; Ispinho e Fulô - 1988; Balceiro. Patativa e Outros Poetas de Assaré - 1991; Cordéis - 1993; Aqui Tem Coisa - 1994; Biblioteca de Cordel: Patativa do Assaré - 2000; Balceiro 2. Patativa e Outros Poetas de Assaré - 2001; Ao pé da mesa – 2001.

Poemas mais conhecidos:
A Triste Partida; Cante Lá que eu Canto Cá; Coisas do Rio de Janeiro; Meu Protesto; Mote/Glosas; Peixe; O Poeta da Roça; Apelo dum Agricultor; Se Existe Inferno; Vaca estrela e Boi Fubá; Você e Lembra?; Vou Vorá.

A Triste Partida foi cantada pelo consagrado Luiz Gonzaga. Além deste, Patativa serviu de inspiração para grupos atuais como O Cordel do Fogo Encantado.

E Patativa escreveu:

ABC DO NORDESTE FLAGELADO
A — Ai, como é duro viver
nos Estados do Nordeste
quando o nosso Pai Celeste
não manda a nuvem chover.
É bem triste a gente ver
findar o mês de janeiro
depois findar fevereiro
e março também passar,
sem o inverno começar
no Nordeste brasileiro.
B — Berra o gado impaciente
reclamando o verde pasto,
desfigurado e arrasto,
com o olhar de penitente;
o fazendeiro, descrente,
um jeito não pode dar,
o sol ardente a queimar
e o vento forte soprando,
a gente fica pensando
que o mundo vai se acabar.
C — Caminhando pelo espaço,
como os trapos de um lençol,
pras bandas do pôr do sol,
as nuvens vão em fracasso:
aqui e ali um pedaço
vagando... sempre vagando,
quem estiver reparando
faz logo a comparação
de umas pastas de algodão
que o vento vai carregando.
D — De manhã, bem de manhã,
vem da montanha um agouro
de gargalhada e de choro
da feia e triste cauã:
um bando de ribançã
pelo espaço a se perder,
pra de fome não morrer,
vai atrás de outro lugar,
e ali só há de voltar,
um dia, quando chover.
E — Em tudo se vê mudança
quem repara vê até
que o camaleão que é
verde da cor da esperança,
com o flagelo que avança,
muda logo de feição.
O verde camaleão
perde a sua cor bonita
fica de forma esquisita
que causa admiração.
F — Foge o prazer da floresta
o bonito sabiá,
quando flagelo não há
cantando se manifesta.
Durante o inverno faz festa
gorjeando por esporte,
mas não chovendo é sem sorte,
fica sem graça e calado
o cantor mais afamado
dos passarinhos do norte.
G — Geme de dor, se aquebranta
e dali desaparece,
o sabiá só parece
que com a seca se encanta.
Se outro pássaro canta,
o coitado não responde;
ele vai não sei pra onde,
pois quando o inverno não vem
com o desgosto que tem
o pobrezinho se esconde.
H — Horroroso, feio e mau
de lá de dentro das grotas,
manda suas feias notas
o tristonho bacurau.
Canta o João corta-pau
o seu poema funério,
é muito triste o mistério
de uma seca no sertão;
a gente tem impressão
que o mundo é um cemitério.
I — Ilusão, prazer, amor,
a gente sente fugir,
tudo parece carpir
tristeza, saudade e dor.
Nas horas de mais calor,
se escuta pra todo lado
o toque desafinado
da gaita da seriema
acompanhando o cinema
no Nordeste flagelado.
J — Já falei sobre a desgraça
dos animais do Nordeste;
com a seca vem a peste
e a vida fica sem graça.
Quanto mais dia se passa
mais a dor se multiplica;
a mata que já foi rica,
de tristeza geme e chora.
Preciso dizer agora
o povo como é que fica.
L — Lamento desconsolado
o coitado camponês
porque tanto esforço fez,
mas não lucrou seu roçado.
Num banco velho, sentado,
olhando o filho inocente
e a mulher bem paciente,
cozinha lá no fogão
o derradeiro feijão
que ele guardou pra semente.
M — Minha boa companheira,
diz ele, vamos embora,
e depressa, sem demora
vende a sua cartucheira.
Vende a faca, a roçadeira,
machado, foice e facão;
vende a pobre habitação,
galinha, cabra e suíno
e viajam sem destino
em cima de um caminhão.
N — Naquele duro transporte
sai aquela pobre gente,
agüentando paciente
o rigor da triste sorte.
Levando a saudade forte
de seu povo e seu lugar,
sem um nem outro falar,
vão pensando em sua vida,
deixando a terra querida,
para nunca mais voltar.
O — Outro tem opinião
de deixar mãe, deixar pai,
porém para o Sul não vai,
procura outra direção.
Vai bater no Maranhão
onde nunca falta inverno;
outro com grande consterno
deixa o casebre e a mobília
e leva a sua família
pra construção do governo.
P - Porém lá na construção,
o seu viver é grosseiro
trabalhando o dia inteiro
de picareta na mão.
Pra sua manutenção
chegando dia marcado
em vez do seu ordenado
dentro da repartição,
recebe triste ração,
farinha e feijão furado.
Q — Quem quer ver o sofrimento,
quando há seca no sertão,
procura uma construção
e entra no fornecimento.
Pois, dentro dele o alimento
que o pobre tem a comer,
a barriga pode encher,
porém falta a substância,
e com esta circunstância,
começa o povo a morrer.
R — Raquítica, pálida e doente
fica a pobre criatura
e a boca da sepultura
vai engolindo o inocente.
Meu Jesus! Meu Pai Clemente,
que da humanidade é dono,
desça de seu alto trono
,da sua corte celeste
e venha ver seu Nordeste
como ele está no abandono.
S — Sofre o casado e o solteiro
sofre o velho, sofre o moço,
não tem janta, nem almoço,
não tem roupa nem dinheiro.
Também sofre o fazendeiro
que de rico perde o nome,
o desgosto lhe consome,
vendo o urubu esfomeado,
puxando a pele do gado
que morreu de sede e fome.
T — Tudo sofre e não resiste
este fardo tão pesado,
no Nordeste flagelado
em tudo a tristeza existe.
Mas a tristeza mais triste
que faz tudo entristecer,
é a mãe chorosa, a gemer,
lágrimas dos olhos correndo,
vendo seu filho dizendo:
mamãe, eu quero morrer!
U — Um é ver, outro é contar
quem for reparar de perto
aquele mundo deserto,
dá vontade de chorar.
Ali só fica a teimar
o juazeiro copado,
o resto é tudo pelado
da chapada ao tabuleiro
onde o famoso vaqueiro
cantava tangendo o gado.
V — Vivendo em grande maltrato,
a abelha zumbindo voa,
sem direção, sempre à toa,
por causa do desacato.
À procura de um regato,
de um jardim ou de um pomar
sem um momento parar,
vagando constantemente,
sem encontrar, a inocente,
uma flor para pousar.
X — Xexéu, pássaro que mora
na grande árvore copada,
vendo a floresta arrasada,
bate as asas, vai embora.
Somente o saguim demora,
pulando a fazer careta;
na mata tingida e preta,
tudo é aflição e pranto;
só por milagre de um santo,
se encontra uma borboleta.
Z — Zangado contra o sertão
dardeja o sol inclemente,
cada dia mais ardente
tostando a face do chão.
E, mostrando compaixão
lá do infinito estrelado,
pura, limpa, sem pecado
de noite a lua derrama
um banho de luz no drama
do Nordeste flagelado.
Posso dizer que cantei
aquilo que observei;
tenho certeza que dei
a prova da relação.
Tudo é tristeza e amargura,
indigência e desventura.
- Veja, leitor, quanto é dura
a seca no meu sertão.

Fontes:

http://recantodasletras.uol.com.br

pt.wikipedia.org/wiki/Patativa_do_Assaré

Fotografias: pratododiapoesia.blogspot.com e www.enciclopedianordeste.com.br, respectivamente.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ser...tão Brasileiro

O Sertão Brasileiro abrange parte de todos os estados do Nordeste e ainda de Minas Gerais.

A região se caracteriza pelo predomínio do clima semi-árido e do bioma da Caatinga.

Segundo o Wikipédia, a palavra Sertão tem origem durante a colonização do Brasil pelos portugueses. Ao saírem do litoral brasileiro e se interiorizarem, perceberam uma grande diferença climática nessa região semi-árida. Por isso a chamavam de "desertão", ocasionado pelo clima quente e seco. Logo, essa denominação foi sendo entendida como "de sertão", ficando apenas a palavra Sertão.

A região sempre foi vista como uma área pobre e desvalorizada pela sociedade brasileira. Entretanto, sabemos que existe sim muita pobreza na região, mas também existem muitas riquezas, riquezas essas que estão no cotidiano das pessoas, que vivem o lugar e sabem o seu valor.

Essa cultura que conta a história de um povo lutador e que merece respeito e valorização de todo o povo brasileiro.

Nos próximos posts estarei trazendo um pouco do que esse povo sertanejo tem a nos mostrar.

sábado, 16 de agosto de 2008

Monumento Natural Cânion do São Francisco

Aos poucos vem sendo reconhecida a importância de conservação da nossa Caatinga. Isso é comprovado pela criação de novas unidades de conservação pelos órgãos ambientais do país.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO está trabalhando para que seja criado o Monumento Natural Cânion do São Francisco até o final do ano.

A categoria de Unidades de Conservação "Monumento Natural" está enquadrada no grupo de "Unidades de Proteção Integral" e tem por objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.

Aqueles que conhecem o Cânion do Rio São Francisco, localizados nos lagos de Xingó, podem confirmar que os cânions são verdadeiras obras de artes esculpidas pela natureza.

A área proposta para a UC é de 30,5 mil hectares, localizados entre os estados da Bahia, Alagoas e Sergipe, onde domina a vegetação da Caatinga. Além da formação dos cânions de até 100 metros de altura, a UC protegerá a região do lago da Usina Hidrelétrica de Xingó e todos os recursos naturais neles existentes.

E por falar em criação de unidades de conservação, ainda estamos esperando a criação do Parque Nacional da Serra Vermelha.